Estudo Bíblico Língua, poder de vida e morte?
“Se não há poder em nossas palavras, como
explicar o versículo que diz: ‘A morte e a vida estão no poder da língua; o que
bem a utiliza come do seu fruto’ (Pv 18.21)?” Como a resposta à sua pergunta
deve interessar a outros irmãos que possuam a mesma dúvida, resolvi escrever
este artigo.
Em primeiro lugar, é impressionante
como alguns “mestres da fé” conseguem reduzir tudo o que está escrito na
Palavra de Deus a alguns versículos isolados! (Não me refiro aqui ao irmão
Daniel, mas aos que induzem o povo de Deus a adotar certos posicionamentos a
respeito da Bíblia.) Quer dizer, então, com base no versículo acima, que até o
ímpio, se utilizar bem a sua língua, terá a vida e a morte em seu poder?
Ora, a Bíblia é análoga. E isso
significa que devemos levar em conta os seus contextos geral, imediato, remoto,
referencial, histórico-cultural e literário. Já pensou se um único versículo
tivesse autoridade em si mesmo? Todos os cristãos fiéis que partiram para a
eternidade estariam condenados! Por quê? Porque é isso que está escrito em 1
Coríntios 15.18: “E também os que dormiram em Cristo estão perdidos”. Mas,
graças a Deus, o contexto revela que os mortos em Cristo estariam perdidos se
Cristo não tivesse ressuscitado (vv.17-19). Mas Ele ressuscitou (v.20)!
O mesmo ocorre com Provérbios 18.21.
Quem lê o capítulo todo, com atenção, percebe que não há nada aí que dê aval à
falaciosa Confissão Positiva. É claro que não devemos ser negativistas,
queixosos crônicos, murmuradores, melancólicos. Embora isso não seja
determinante para o fracasso total de alguém — pois Deus é misericordioso e
pode nos ajudar, mesmo quando passamos por momentos de fraqueza espiritual (cf.
1 Rs 19.1-8) —, devemos bendizer ao Senhor em todas as circunstâncias, haja o
que houver (1 Ts 5.18; Jó 1.20-22).
Por que a Confissão Positiva é uma
falácia? Primeiro, porque o termo “confissão”, nas páginas sagradas, nunca é
empregado com o sentido de pronunciar “palavras mágicas” com poder de vida e de
morte. Antes, na maioria das vezes, está atrelado às palavras que expressam
arrependimento e desejo de se afastar do pecado (Pv 28.13; 1 Jo 1.9); ao
reconhecimento de que Jesus é o Senhor (Rm 10.9); e à pregação do evangelho (Mt
10.32).
Muitos cristãos estão convencidos
mesmo de que há poder de vida e de morte em suas palavras. Por isso, é comum,
em pretensas marchas para Jesus, ouvirmos bordões como: “Esta cidade é do
Senhor Jesus”. Contudo, se não houver compromisso com o verdadeiro evangelho,
tais “confissões positivas” em nada mudarão a situação atual do nosso país.
Infelizmente, os mesmos triunfalistas que induzem o povo a “profetizar” vitória
sobre a nação estão envolvidos com inúmeros pecados, como a idolátrica avareza
(Ef 5.5; 2 Pe 2.3).
Ainda que, em certo sentido, as
nações, o planeta Terra e todo o Universo sejam do Senhor Jesus (Sl 24.1; Hb
11.3), o mundo está precisando ouvir as boas novas de salvação (Mc 16.15; Mt
28.19), e não “palavras mágicas”. O Brasil precisa ser conquistado pelo
evangelho, e não politicamente. O Reino de Cristo é espiritual (Jo 18.36; Rm
14.17). Precisamos orar pela nossa nação e pregar o verdadeiro evangelho. Deus
pode mudar a situação de países e governos por intercessão e influência do seu
povo, e não mediante “confissões positivas” (1 Tm 2.1-3; 2 Cr 7.14,15). Mas os
adeptos da Confissão Positiva têm preferido “profetizar” que bares e casas de
show serão fechados, teatros apresentarão peças evangélicas...
Se “confissões positivas”
funcionassem mesmo, o mundo seria uma maravilha. Mas voltemos ao texto de
Provérbios 18.21. Nos versículos anteriores vemos que o autor sagrado não
estava se referindo ao suposto e determinante poder de vida ou morte das
palavras humanas: “O irmão ofendido é mais difícil de conquistar do que uma
cidade forte; e as contendas são como ferrolhos de um palácio. Do fruto da boca
de cada um se fartará o seu ventre; dos renovos dos seus lábios se fartará” (Pv
18.19,20).
Outro texto usado pelos “mestres” da Confissão Positiva para corroborar a passagem em análise é Tiago 3.10. Podemos examiná-los conjuntamente porque ambos alertam quanto à maledicência, incentivando-nos a usar a língua para bendizer a Deus (Tg 3.1-9). Veja: “Com ela [língua] bendizemos a Deus e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus” (v.9).
Como no movimento da Confissão
Positiva tudo gira em torno do limitado e frágil ser que se gaba de muitas
coisas — o homem —, este é convencido de que pode resolver tudo mediante as
suas palavras. Ele não deve chorar nem sofrer, pois, se souber usar o poder de
vida e de morte que tem em seu pensamento e em sua língua, poderá dominar todas
as coisas e tornar-se um deus andando na terra! Basta “determinar”, e será
abençoado ou abençoará pessoas, famílias, nações e até times de futebol!
Juntamente com os textos isolados de
Tiago 3.10 e Provérbios 18.21, os “mestres da fé” citam: a visão do vale de
ossos secos, em que Ezequiel profetizou, e os ossos reviveram (Ez 37.1-10); e
também o fato de o profeta Elias ter “determinado” que não choveria durante
três anos e seis meses (1 Rs 17.1). Quanto a Ezequiel, ele profetizou conforme
se lhe deu ordem e disse: “Ossos secos, ouvi a palavra do SENHOR” — o poder
para vivificar os ossos não estava em sua palavra, e sim na viva e eficaz
Palavra do Senhor (Ez 37.4-7; Hb 4.12).
No caso do profeta Elias, de fato não
choveu durante três anos e seis meses segundo a sua palavra. Entretanto ele,
que “era homem sujeito às mesmas paixões que nós e, orando, pediu que não
chovesse” (Tg 5.17). Ou seja, ele só fez o que fez diante do rei Acabe porque
Deus atendeu, de antemão, o seu pedido. Quem aprende com o Bom Pastor — e não
com tele missionários, tele bispos e tele apóstolos — sabe que o crente fiel
deve pedir, em vez de “determinar” (Mt 7.7,8; Jo 14.13,14).
Diante do exposto, não se deve tomar
o texto de Provérbios 18.21 como uma verdade geral, aplicável para toda e
qualquer circunstância. O autor falou do poder de vida e de morte da língua em
relação a bendizer e maldizer o próximo. Essa passagem não abona a descabida e
falaciosa Confissão Positiva, que leva o frágil ser humano a pensar que toda e
qualquer palavra que sai de sua boca é uma profecia.
Evangelista Sueli Felix dos Santos
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